O que mudou

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Esses dias fui na locadora com minha irmã e minha mãe. Minha irmã quis locar “Mansão mal assombrada” (aquele filme genial com o Eddie Murphy e que ela já tinha assistido umas 32 vezes) e eu perguntei: “Nicole, por que você quer pegar esse filme se já o assistiu tantas vezes?” Ao que ela me responde: “Porque eu quero, ué.”
E aí eu lembrei de uma coisa. Quando eu era pequena, eu assistia o mesmo filmes milhares de vezes. As vezes eu acaba de assistir e voltava do começo para assistir de novo (e não fazia isso só uma vez). Quando minha mãe me olhou e sorriu, logo em seguida, ela disse exatamente o que eu estava pensando e… Bom, percebi que talvez as coisas mudem mesmo.

Hoje, entendo a diferença de cartão de débito, crédito e o porquê de só sacar dinheiro da conta corrente.
Parei de brigar e assumi o feijão.
Finalmente aprendi e entendi uma das coisas mais difíceis e também libertadoras da minha vida: meus pais são só pessoas. Assim, como eu, mas com uns anos a mais. Eles não sabem de tudo, não conseguem fazer tudo e, principalmente, eles erram (e isso é algo incrível e assustador, uma vez que você entende).
Sei calcular exatamente quantos dias faltam até um dia x qualquer.
Passei a ter uma relação dual de felicidade x desânimo nos meus aniversários (antes era só amor, cachorro quente, bolo das princesas e muito rosa pra onde se pudesse olhar).
Tenho de me forçar a imaginar que uma vassoura é um cavalo ou que um cobertor em cadeiras possam ser cabanas secretas.
Mocassins são legais. Mocassins são mais legais ainda quando pronunciados da forma certa: mocassãns (frescurinhas do francês).
Contas são coisas reais.
Ninguém vai arrumar meu quarto se eu não o fizer.
Não importa se eu estou passando mal, com o coração partido ou se estou cansada… O mundo real só entende essas coisas através de um atestado médico.
Passei a achar totalmente compreensível uma pessoa ganhar um salário qualquer e não gastar nada consigo mesma no final do mês.
Açaí não só é bom, como é amor de cor roxinha.
A praia é melhor do que a piscina.
Não, virar a noite não é uma aventura e não é legal. A maioria das vezes, pelo menos.
Hoje eu tenho uma reputação. Sim. Aliás, ter uma reputação é algo dual assim como aniversários: lado bom e lado ruim.
Eu não acho mais que alguém que tenha R$ 1.000,00 é rico, ou que isso seja um dinheirão do tipo muito-dinheiro-mesmo.
Eu entendo de política. E de eleições. E de economia, de relações públicas, relações internacionais, gravatas, ternos e segundas intenções. Também entendo de preços de gasolinas, gente reclamando e de inflação.
Na maioria das vezes eu prefiro passar minhas tardes livres dormindo do que ir tomar banho de mangueira ou jogar banco imobiliário ou fazer algo divertido/cansativo. Desculpe.
Hoje eu sei dirigir.
Além de saber dirigir, sei a diferença entre a faixa da esquerda, do meio e a da direita.
Sei andar de salto alto e usar maquiagem (e hoje são os meus, não os que eu roubava da minha mãe quando ela ia trabalhar).
Sei a diferença entre collant, corpete, cinta, segunda pele, oxford, sapato boneca, bico fino, ankle boot, scarpin, azul bebê, ciano, bic, royal, marinho e um bocado de outras coisas.
Aprendi a digitar usando as duas mãos, sem olhar para o teclado, usando todos os dedos nas teclas certas e numa velocidade razoavelmente rápida.
Gosto de músicas antigas, filmes antigos e todas essas coisas. Aliás, hoje eu trocaria um filme da Disney por um outro filme.
Eu uso protetor solar direitinho todos os dias, me preocupo com horários e crachás e chefes e textos para ler pro dia seguinte na faculdade.
Eu entendo a importância de seguros, poupanças, saúde física, boa alimentação, controle financeiro e planos “B”.
E mais um tantão de coisa.

Não que seja ruim! É só diferente.
A chave em entender quem somos talvez esteja pautado no que mudou (para melhor ou não), mas também no que permaneceu e o que fica de essência no meio disso tudo. Metamorfose ambulante sim, mas, também, algumas velhas opiniões formadas sobre (quase) tudo.